A visão é um dos cinco sentidos que nos ajuda a compreender todo o mundo ao nosso redor. Através dos olhos, guardamos na nossa memória lembranças inesquecíveis, como o nascimento dos nossos filhos, primeiro sorriso, apresentações na escola, e uma série de momentos únicos na história de pais e filhos.
Mas e quando o pai não possui a visão, como fica a relação com os filhos? Nossa reportagem falou com pais de família portadores de deficiência visual que conseguiram enfrentar vários obstáculos, provando que o amor transpõe qualquer barreira.
Douglas Valter Soares, de 41 anos, é um desses pais. Portador de deficiência visual desde que nasceu, hoje ele é técnico de informática da Escola de Cegos do Maranhão. Mesmo com a deficiência, Douglas tem dois empregos, estuda e ainda cria 4 filhos.
“Para mim, sou um “Paizão”. Além de trabalhar no estado e no município pela manhã, a noite faço faculdade de pedagogia, sendo que esta será a minha terceira formação. E o mais importante pra mim, posso criar meus filhos sem obstáculos”, disse Douglas Soares.
FamíliaDouglas cria seus quatro filhos, que não são deficientes visuais. Eles já se acostumaram com a cegueira e sempre ajudam o pai.
“Eles já se adaptaram com a minha deficiência, eu não tenho o que reclamar, eu faço tudo o que tenho vontade de fazer. Raramente quando eu preciso de ajuda, eu chamo alguém. Quando saio com os meus filhos, a um supermercado, por exemplo, eles já colocam a mercadoria nas minhas mãos”, disse Douglas.
Com a criação dos filhos desde pequeno, Douglas ainda conta que eles já se sentem acostumados com a deficiência do pai e tem muita paciência de ouvir, cuidar e se importar com ele. Por outro lado, o paizão só quer o melhor para os herdeiros.
“Eu só quero que eles sejam pais e profissionais exemplares, que deem o melhor de si, e que cheguem ao patamar que eu cheguei. Hoje sou concursado do município e do estado, sou formado em filosofia, direito e estou terminando agora minha faculdade de pedagogia. E com a educação, eles poderão ser pessoas exemplares em tudo!”, conta Douglas.
Superação
O ex-soldador e hoje técnico de informática da Escola de Cegos do Estado, Francisco Andrade, de 31 anos, é portador da deficiência e conta como perdeu a visão.
“Eu sempre trabalhei desde muito jovem como soldador, então no ano de 2009, eu comecei a sentir a perda da visão pouco a pouco, e em 2010 eu tive a perda total da visão. Eu já tinha uma pequena lesão na retina, e por falta de cuidados no trabalho, a lesão foi se agravando”, disse Francisco.
Quando as pessoas perdem a visão após anos de nascença, muitos podem até achar que é impossível continuar a viver, mas Francisco deixa seu testemunho de força de vontade e superação.
Quando as pessoas perdem a visão após anos de nascença, muitos podem até achar que é impossível continuar a viver, mas Francisco deixa seu testemunho de força de vontade e superação.
“No começo foi muito difícil a adaptação, mas hoje já consigo fazer muitas coisas sozinho. Os outros sentidos se afloraram, tenho mais sensibilidade e todo dia eu aprendo uma coisa nova”. Mesmo com as dificuldades, Francisco e filhos ainda estudam.
“Venho todo dia de casa pra cá (Escola de Cegos) com o meu filho, trago ele pra estudar e também estudo aqui, mas ainda estou me adaptando ao braile. Eu tenho um pouco de dificuldade, eu escrevo rápido e escrevo bem, mas ler ainda tenho um pouco de dificuldade”, contou o Francisco.
Independente da deficiência, Francisco ainda faz o papel de pai, cuida e educa normalmente do filho, sem falar do cuidado do filho para com o pai. “Às vezes eu vou pra um lugar com ele de ônibus e ele procura logo uma cadeira pra eu sentar e fica em pé perto de mim, ele tem cuidado de mim e eu dele, tenho muita atenção com ele”, fala.
O pai de família, como sempre, deseja o melhor para os filhos, e com certeza que sejam grandes pais. Com seu Francisco Andrade não é diferente, o desejo para o filho é que seja uma pessoa bem disposta a ajudar o próximo.
“O meu desejo é que ele se torne uma pessoa boa, já que ele convive tanto comigo quanto com os coleguinhas, que também são deficientes visuais, que ele seja uma pessoa estimuladora, que ajude as pessoas com deficiências e as pessoas que não têm, porque o mundo se faz assim, um ajudando o outro. E quero que ele tenha a oportunidade que eu não tive, de estudar mais, pois hoje em dia tudo é voltado ao estudo”, concluiu Francisco.
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