terça-feira, 27 de maio de 2014

'Não sei o que faria', confessa capitão Thiago Silva sobre conquista da Copa

Depois de uma infância difícil na Zona Oeste do Rio e uma internação longa na Rússia, a volta por cima. Conheça a trajetória do zagueiro.

Do G1


Desde o dia da convocação da Seleção Brasileira, o Jornal Nacional tem apresentado, um a um, os jogadores que o técnico Luiz Felipe escolheu para disputar a Copa. São reportagens do Tino Marcos e do repórter cinematográfico Álvaro Sant'anna.

Trinta de junho de 2013: o pódio. “Antes de erguer a taça lá em cima, o que passava na minha cabeça era minha infância difícil”, conta o jogador Thiago Silva.

Ele não estava à frente, nem era um dos mais visíveis. Mas era, em sua plenitude, o capitão da Seleção Brasileira.

“E essa imagem marca a minha carreira, principalmente por estar representando meu país, que era um sonho desde criança”, afirma.

E pensar que, por pouco, Thiago nem estaria por aqui. Dona Ângela já era mãe de um casal e mal tinha recursos para criar os dois. Mesmo sofrendo muito, estava decidida a fazer um aborto.

“Eu cheguei a chorar no colo do meu pai, dizendo pai eu não quero fazer, mas eu também não tenho condição”, diz Ângela, mãe do jogador.

 E ele a convenceu a ter o bebê. “Não deixou que eu fizesse, cometesse um pecado”, explica Ângela.
E o caçula veio ao mundo. De Santa Cruz, bairro da Zona Oeste carioca, onde nem toda vizinhança era confiável.

“Caso de 50m depois da linha do trem já era uma favela bem conhecida. Sempre tinha tiroteio do outro lado e os policiais vinham pro lado onde eu morava. E quando eu chegava em casa, eu dava graças a Deus de chegar em casa bem”, conta Thiago Silva.

Era preciso conviver com aquela realidade, era preciso comer o que havia na mesa.
“Às vezes, chegava em casa não tinha uma carne pra comer, mas tinha sempre um arroz, feijão e ovo”, lembra o zagueiro
.
É, a vida mudou. E não tem sido ingrata. “Morando em Paris, já morei em Milão, jogando num dos maiores times do mundo, vivendo uma fase exuberante na minha carreira”, afirma o jogador.

Zagueiro e capitão do PSG, campeão francês. Há dois anos, Paris. Das pontes charmosas, do Rio Sena, de cuja margem fãs acenam para Thiago. Paris e seus encantos:  o endereço da família Silva.

A cidade mais visitada por turistas, a cidade-luz, do romantismo. A cidade que eles escolheram para viver. Um conto de fadas realizado. E o próximo?

Um beijo em Isabelle, com a catedral de Notre Dame ao fundo. Thiago e a Torre Eiffel, sob um céu azul. E o pensamento toda hora viaja.

“É difícil de dormir, é difícil de você acordar um dia e passar um dia todo sem pensar. É quase impossível, e eu ultimamente tenho perdido até noite de sono. Não é brincadeira, Copa do Mundo é coisa muito séria”, diz Thiago Silva.

São 63 convocações e seis anos de Seleção. Viu do banco a derrota em 2010 e se consolidou como um dos maiores zagueiros do mundo, no Milan, e depois no PSG.

Que desfecho, hein, dona Ângela? “Não que a gente imaginasse que ele fosse chegar a tanto, seria sonho demais”, conta Ângela.

O menino Thiago foi reprovado nas tentativas de entrar em um grande clube do Rio. E foi parar no Barcelona.
“É Barcelona Esporte Clube”, diz o presidente do Barcelona Augusto Vieira.  “Joguei no Barcelona do Rio”, conta o jogador.

Um clube da terceira divisão do Rio.  “As pessoas falavam: ‘caraca, nós vamos jogar contra o Barcelona’”, lembra.
O que o Barça do Rio teve o Barça catalão quer. “E depois ser cobiçado pelo Barcelona original”, diz Thiago Silva.

Thiago chegou a negociar com o Barcelona antes de fechar com o PSG. Mas, há 14 anos, o menino do Barça carioca conseguiu um lugar no pequeno RS, do Rio Grande do Sul, depois Juventude de Caxias do Sul e aí foi parar no dínamo, da Rússia. E por lá parou mesmo.

“Ali foi a maior batalha da minha vida”, afirma o jogador. Tuberculose. “Foram seis meses, seis meses internado na Rússia”, conta.  “Foi a pior parte da vida dele e nossa”, explica Ângela. “Engordei dez quilos naquela minha doença”, lembra Thiago Silva.

“O dia dele dentro daquele quarto era deprimente”, diz a mãe do jogador. “Tinha aquele ponto de interrogação, se propriamente eu poderia voltar a jogar futebol profissional ou só amador ou de repente nem amador”, conta o zagueiro.

Voltou. E justo depois da doença, a carreira decolou no Fluminense: 143 jogos até ser vendido para o Milan e conquistar a Europa. Na Seleção, Thiago é o principal representante dos jogadores na relação com Felipão e a CBF.

“A gente tem essa abertura para falar com eles. Nem sempre a comissão técnica é de acordo com aquilo que a gente pensa e nem sempre a gente é de acordo com aquilo que a comissão técnica pensa”, explica Thiago Silva.

O líder. “Ele dá só aquele grito e as crianças já se comportam um pouquinho mais”, brinca Ângela.
O capitão e sua - milhares de vezes – imaginada missão. Aquela, de Bellini, Mauro, Carlos Alberto, Dunga e Cafu.

“Eu não consigo mencionar o que eu faria naquele momento. Não sei, sinceramente eu não sei, mas que vai ser bom, isso vai. A melhor coisa de todas as nossas vidas: ganhar um mundial dentro de casa”, afirma Thiago Silva.

Fonte: G1/JN.

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