Musas se
destacam na passarela
O ImparcialSabrina Sato na Gaviões da Fiel |
Não poderia ter sido mais oportuno _ e divertido! No carnaval da crise hídrica, um samba pedindo chuva encerrou a segunda noite dos desfiles do Grupo Especial de São Paulo. Mas, apesar da boa ideia da X-9, foram dois enredos biográficos que proporcionaram os melhores momentos do ano. Elis Regina ou Marília Pêra? Vai-Vai ou Mocidade Alegre? Os desfiles que retrataram a vida e obra da estrela da MPB e da diva do teatro nacional são, coincidentemente, os dois maiores favoritos para a conquista do título deste ano. Mesmo que não vençam, Vai-Vai e Mocidade saíram ontem da passarela do Anhembi novamente reconhecidas como escolas de samba que dignificam o carnaval paulistano. Gaviões da Fiel, Rosas de Ouro, Tucuruvi e Império de Casa Verde também fizeram desfiles competentes e podem surpreender na hora abertura dos envelopes das notas oficiais. A decisão só sai terça-feira (17), e a única escola que já vai para o juízo final punida com perda de pontos é a Acadêmicos do Tatuapé, que estourou em um minuto o tempo de desfile.
De volta à elite do Carnaval depois de um surpreendente rebaixamento para o grupo de acesso em 2013, a Unidos de Vila Maria abriu a última noite disposta a brilhar. Não por acaso, levou para a avenida um enredo que falava de diamantes, ideal para exaltar também as bodas de 60 anos da escola. A combinação deu certo. A escola não economizou no brilho e no luxo de suas alegorias e adereços – apenas no carro abre-alas, uma representação do Taj Mahal, foram utilizadas 144 mil pedras brilhantes. A comissão de frente foi outro destaque da passagem da Vila pelo Sambódromo, com a encenação de uma briga de gângsteres armados a bordo de um reluzente Ford 1936, de onde saía uma Marilyn Monroe como guardiã do grande diamante.
Egito, Grécia, Minas, Serra Pelada... A trilha do ouro marcou o luxuoso desfile da Acadêmicos do Tatuapé, quinta escola a desfilar no sambódromo já na madrugada de domingo (15). A proposta do enredo era mostrar a relação do homem com o metal desde a Antiguidade até os dias de hoje, tomando-o como símbolo de poder, riqueza e ambição. Do Rei Midas a Tio Patinhas. De Oxum à Galinha dos Ovos de Ouro. Das bodas de ouro ao funk ostentação. Desde 2010, quando foi campeã do Grupo 1 da União das Escolas de Samba Paulistanas, a escola da Zona Leste tem experimentado gradual ascensão e segue firme na busca de seu maior tesouro: um troféu de campeão. O problema é que no final do desfile, um vacilo da harmonia praticamente entregou o ouro. Mesmo correndo, a bateria e o carro de som, que fechavam o desfile, estouraram o tempo em um minuto (1h06), o que certamente vai acarretar punição e perda de pontos na apuração.
Poderia ser só mais um desfile. Poderia ser só mais um enredo biográfico. Poderia ser um show de velhos sucessos da MPB....mas foi uma catarse coletiva. O desfile da Vai-Vai em homenagem à cantora Elis Regina, morta em 1982, certamente entra para a história do Sambódromo do Anhembi como um dos momentos mais emocionantes do Carnaval paulistano. Raras vezes se viu cenário igual, com sambistas chorando durante boa parte do desfile – entre eles, a cantora Maria Rita, que conduziu o espetáculo como mestre de cerimônia da comissão de frente. Seus irmãos, Pedro Mariano e João Marcelo Bôscoli, também estavam lá, ao lado de outros artistas que foram importantes na vida de Elis.
A participação do público contribuiu para conferir um caráter de celebração ao desfile da Saracura. Muito pela força do samba, um dos mais belos do ano, construído à base de uma costura de títulos, frases e citações de célebres sucessos da Pimentinha. O refrão, que resgata o canto de escravos presente na canção "Maria, Maria", de Milton Nascimento e Fernando Brandt, se encarregou de levar o Anhembi ao delírio, do começo ao fim do desfile. Na apoteose podiam-se ouvir gritos, justificados, de "é campeão, é campeão".
Com 85 anos de vida, a Vai-Vai tem 14 títulos. Curiosamente, o último campeonato foi conquistado em 2011, com o enredo "A música venceu", em homenagem ao maestro João Carlos Martins. Mas o fato é que a escola entrou na avenida este ano sob o estigma do decepcionante desfile do ano passado, quando terminou em nono lugar e ameaçada pelo rebaixamento. Por conta desse fantasma, causou aflição o problema no eixo do carro abre-alas de 90 metros de comprimento, que quase pôs a perder um desfile histórico. Um desfile que era para ser "Simplesmente Elis", mas foi "Simplesmente Vai-Vai".
A última noite do grupo especial do carnaval de São Paulo podia terminar ali, mas os deuses do samba ainda reservaram espaço para o desfile da X-9 Paulistana. Já sob a luz do amanhecer, e com as arquibancadas ainda lotadas, a escola da Zona Norte pegou carona na crise hídrica que assola São Paulo para promover uma autêntica dança da chuva no Anhembi. O enredo "Sambando na Chuva" não só permitiu uma enxurrada de alegria para a comunidade como lavou a alma dos paulistanos. A seca no sistema Cantareira foi tratada com bom humor pelo carnavalesco André Machado, que levou para avenida um carro em forma de banheira cheia de "água do volume morto", ao som de um refrão que vai ficar como um alento: "Deixa chover, deixa molhar, a nossa festa não tem hora para acabar/Eu quero ver você sambar/Com a X-9 até o dia clarear".
De volta à elite do Carnaval depois de um surpreendente rebaixamento para o grupo de acesso em 2013, a Unidos de Vila Maria abriu a última noite disposta a brilhar. Não por acaso, levou para a avenida um enredo que falava de diamantes, ideal para exaltar também as bodas de 60 anos da escola. A combinação deu certo. A escola não economizou no brilho e no luxo de suas alegorias e adereços – apenas no carro abre-alas, uma representação do Taj Mahal, foram utilizadas 144 mil pedras brilhantes. A comissão de frente foi outro destaque da passagem da Vila pelo Sambódromo, com a encenação de uma briga de gângsteres armados a bordo de um reluzente Ford 1936, de onde saía uma Marilyn Monroe como guardiã do grande diamante.
Egito, Grécia, Minas, Serra Pelada... A trilha do ouro marcou o luxuoso desfile da Acadêmicos do Tatuapé, quinta escola a desfilar no sambódromo já na madrugada de domingo (15). A proposta do enredo era mostrar a relação do homem com o metal desde a Antiguidade até os dias de hoje, tomando-o como símbolo de poder, riqueza e ambição. Do Rei Midas a Tio Patinhas. De Oxum à Galinha dos Ovos de Ouro. Das bodas de ouro ao funk ostentação. Desde 2010, quando foi campeã do Grupo 1 da União das Escolas de Samba Paulistanas, a escola da Zona Leste tem experimentado gradual ascensão e segue firme na busca de seu maior tesouro: um troféu de campeão. O problema é que no final do desfile, um vacilo da harmonia praticamente entregou o ouro. Mesmo correndo, a bateria e o carro de som, que fechavam o desfile, estouraram o tempo em um minuto (1h06), o que certamente vai acarretar punição e perda de pontos na apuração.
Poderia ser só mais um desfile. Poderia ser só mais um enredo biográfico. Poderia ser um show de velhos sucessos da MPB....mas foi uma catarse coletiva. O desfile da Vai-Vai em homenagem à cantora Elis Regina, morta em 1982, certamente entra para a história do Sambódromo do Anhembi como um dos momentos mais emocionantes do Carnaval paulistano. Raras vezes se viu cenário igual, com sambistas chorando durante boa parte do desfile – entre eles, a cantora Maria Rita, que conduziu o espetáculo como mestre de cerimônia da comissão de frente. Seus irmãos, Pedro Mariano e João Marcelo Bôscoli, também estavam lá, ao lado de outros artistas que foram importantes na vida de Elis.
A participação do público contribuiu para conferir um caráter de celebração ao desfile da Saracura. Muito pela força do samba, um dos mais belos do ano, construído à base de uma costura de títulos, frases e citações de célebres sucessos da Pimentinha. O refrão, que resgata o canto de escravos presente na canção "Maria, Maria", de Milton Nascimento e Fernando Brandt, se encarregou de levar o Anhembi ao delírio, do começo ao fim do desfile. Na apoteose podiam-se ouvir gritos, justificados, de "é campeão, é campeão".
Com 85 anos de vida, a Vai-Vai tem 14 títulos. Curiosamente, o último campeonato foi conquistado em 2011, com o enredo "A música venceu", em homenagem ao maestro João Carlos Martins. Mas o fato é que a escola entrou na avenida este ano sob o estigma do decepcionante desfile do ano passado, quando terminou em nono lugar e ameaçada pelo rebaixamento. Por conta desse fantasma, causou aflição o problema no eixo do carro abre-alas de 90 metros de comprimento, que quase pôs a perder um desfile histórico. Um desfile que era para ser "Simplesmente Elis", mas foi "Simplesmente Vai-Vai".
A última noite do grupo especial do carnaval de São Paulo podia terminar ali, mas os deuses do samba ainda reservaram espaço para o desfile da X-9 Paulistana. Já sob a luz do amanhecer, e com as arquibancadas ainda lotadas, a escola da Zona Norte pegou carona na crise hídrica que assola São Paulo para promover uma autêntica dança da chuva no Anhembi. O enredo "Sambando na Chuva" não só permitiu uma enxurrada de alegria para a comunidade como lavou a alma dos paulistanos. A seca no sistema Cantareira foi tratada com bom humor pelo carnavalesco André Machado, que levou para avenida um carro em forma de banheira cheia de "água do volume morto", ao som de um refrão que vai ficar como um alento: "Deixa chover, deixa molhar, a nossa festa não tem hora para acabar/Eu quero ver você sambar/Com a X-9 até o dia clarear".
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